II Manifesto Contra Cultura do Estupro

Diante dos recentes acontecimentos que vieram a público envolvendo violência contra a mulher, a PoliGen vem por meio da presente nota pronunciar seu alinhamento à luta pelo fim da cultura do estupro.
 
Em maio de 2015, quatro adolescentes foram violentadas, torturadas e atiradas de um penhasco de dez metros de altura por um grupo de cinco homens. Em maio de 2016, uma jovem de 16 anos é estuprada por mais de 30 homens, sendo um deles seu namorado, e tem-se o ato filmado e exposto na internet pelos próprios agressores. Dois casos de estupro, uma violência que ocorre a cada 11 minutos no Brasil e em que as vítimas são 88,5% do sexo feminino, 51% de cor preta ou parda e 46% não possuem ensino fundamental. Uma violência, portanto, fortemente vinculada a gênero e raça e que deve ser tratada como tal.
 
Cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida (ONU). Mulheres de 15 a 44 anos correm maior risco de sofrer estupro e violência doméstica do que de serem afetadas por câncer, acidentes de carro, guerra e malária, de acordo com dados do Banco Mundial. Calcula-se que, em todo o mundo, uma em cada cinco mulheres se tornará uma vítima de estupro ou tentativa de estupro no decorrer da sua vida. Já no Brasil, a cada 2 minutos cinco mulheres são espancadas, a cada três minutos uma mulher é violentada e a cada 2 horas uma mulher é assassinada, dados esses do Ministério da Saúde que colocam o país em 12º no ranking mundial de homicídios de mulheres vitimadas por parentes, maridos, namorados, ex-companheiros ou homens que foram rejeitados por elas. Para além desses dados, esbarra-se também no problema da subnotificação dos casos de violência de genêro o que se dá devido a fatores como culpabilização da vítima por parte da sociedade e vínculos de dependência da vítima em relação a seu algoz, perpetuados pelas estruturas de dominação patriarcal.
 
Para lutar contra a cultura do estupro, é necessário compreender as relações estruturais de dominação e poder ligadas a gênero que se manifestam sob a forma das mais atrozes violências, tendo em mente que os casos supracitados não são isolados, mas um reflexo dessas relações. É necessário também prezar pela preservação da integridade da vítima, não compactuando com sua exposição, endossando a exigência pela punição dos agressores e opondo-se a quaisquer tentativas que se dêem no sentido de culpabilizá-la. 
 
Em tempos de Primavera Feminista, não haverá mais silêncio diante da violência contra a mulher, o que tem se mostrado nítido nas redes sociais. Nesse contexto, propomo-nos a continuar nosso trabalho de ampliar e perpetuar o debate da questão de gênero, bem como o de promover a busca por práticas e iniciativas que se dêem no sentido de abolir as desigualdades que culminam nessa forma de violência - desde suas nuances mais simbólicas até suas facetas mais concretas - a partir do empoderamento de meninas e mulheres, da reivindicaçao por políticas públicas que mitiguem e punam essa e todas as formas de violência, da disseminação de uma cultura cada vez mais feminista e do oferecimento de apoio e solidariedade incondicionais a todas as vítimas de violências. Estaremos juntas nessa luta e convidamos todas a compor o ato no dia 1º de Junho. Todas nós, por todas elas.
 
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